Sep 12, 2010

Salinas, INDESCRITÍVEL!


Estou a alguns minutos tentando resumir o sentimento de ter estado em Salinas (Região dos Três Picos – Friburgo – RJ), e pelo título que escolhi para o texto pode-se imaginar que não consegui achar palavras para expressar toda sensação vivida dentre os dias 26 de agosto e 01 de setembro, fica então a cargo do leitor tentar imaginar tudo que vivemos...
Eu e o Guga recebemos de nossos mais novos amigos Samuca e Renata um maravilhoso convite para escalarmos em Salinas no feriado de 07 e 08 de setembro (em Curitiba dia 08 também é feriado), planejávamos a aventura com muito entusiasmo quando dia 24 de agosto saiu o edital marcando o exame do Guga para dia 08 de agosto (exame médico do concurso público que ele passou em Piraquara), data impreterível que caiu como um "balde de água fria em nossos planos". Porém nosso grande amigo Samuca juntamente com sua namorada Renata tiveram a grande idéia e disponibilidade para adiantarmos nossa viajem, teríamos que sair no dia 25 à noite, correria total, arrumação de mochilas e comida de última hora mais foi a melhor coisa que podia ter acontecido. Enfrentamos a estrada durante toda noite com o Guga e Samuca dividindo o volante e assim dia 26 por volta do meio dia chegamos ao Refúgio das águas do Sérgio Tartari (autor do guia de escaladas do local) onde fomos acolhidos muito bem por ele, por sua companheira Rosane e por seus cachorros Thor e Brenda. Grande começo para uma grande aventura, o lugar de cara impressiona pelo visual deslumbrante, os picos gigantes que parecem abraçar o tudo e recepcionar os visitantes com toda imponência das montanhas... tiramos o restante deste dia para descansar e organizar as coisas para nossa primeira escalada. Dia 27 de agosto por volta das 04:30 da manhã acordamos, tomamos café e à luz da lua cheia iniciamos nossa caminhada rumo ao morro do Capacete onde escalaríamos a via CERJ (400 metros, D3 5° V – A0/V+ E2), caminhada de aproximadamente 1 hora e 30 minutos mais que para mim foi fundamental para sentir de perto toda energia espetacular do local, a cada passo dado uma paisagem, uma luz, enfim um astral com um nascer do sol deslumbrante, nossa primeira parada foi no vale dos deuses onde pegaríamos água e ao chegar no local foi uma grande surpresa para todos pois tinha muito gelo na vegetação, uma geada impressionante para a temperatura que estávamos enfrentando, isto tudo nos deu um visual inusitado, enfim após curtir o friozinho pegamos nossa água e subimos rumo a via almejada, fizemos duas cordadas independentes sendo o Samuca e a Rê na frente, eu e o Guga na sequência. O Guga iniciou nossa cordada guiando a 1ª enfiada, eu fui na sequência e guiei a 2ª enfiada, o Guga guiou a 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, 7ª e 8ª que é um A0, eu guiei a 9ª e o Guga fechou a via com a 10ª, a via é espetacular, cada cordada é exigente de alguma maneira fazendo com que o escalador utilize inúmeras técnicas diferenciadas tendo esticões alucinantes que mechem com o psicológico do escalador, enfim fiquei apaixonada pela via e pelo meu desempenho... chegamos ao cume com o sol se pondo e em êxtase total pela escalada, tomamos nossa última água/suco de uva com os amigos em comemoração e partimos em busca do rapel que foi a parte mais tensa de toda escalada, o rapel é feito em uma via logo abaixo do cume e sua identificação a noite fica comprometida...mais após muita busca nossos grandes meninos acharam a via de rapel e fizemos nossa descida à luz da lua cheia fechando nosso dia no vale com a melhor água fresca após um dia intenso e quente na parede, ótimo dia que comemoramos com um delicioso espumante no refúgio, e pós 24 horas de balada (como diz o Guga) tivemos nosso merecido descanso. No outro dia (28 de agosto) tivemos obrigatoriamente que descansar a cabeça e o corpo do dia anterior, ficamos no refúgio curtindo a rodada de pizza do Serginho (maravilhosa e recomendadíssima) e acabamos conhecendo um carioca gente boníssima, o Luis que fechou com o Guga e o Samuca um trio para escalar a via Sólidas ilusões (450 metros, D3 5° V, A0/VI+, E3) e lá foram eles dia 29 de agosto, um lindo domingo onde eu e a Rê ficamos no refúgio descansando e esperando os meninos voltarem, segundo eles a via é maravilhosa, com um belíssimo visual e dois diedros espetaculares, chegaram cansados mais ou menos às 19:00 horas, mais com o sentimento de missão cumprida, recepcionamos eles com um delicioso estrogonofe de frango e purê de batata. Mais um dia de descanso (30 de agosto) com direito a banho de sol e de rio (água muito gelada) e incertezas, pois com a correria da viajem o Guga não teve tempo de amaciar a sapatilha nova e sem opção escalou com ela as duas vias tendo seu pé repleto de bolhas após a 2ª via terminada, mais sem desanimar tivemos a grande ajuda do Sergio Tartari que emprestou uma sapatilha maior para o Guga usar com meia e conseguir escalar e deu uma ótima dica, recomendou uma via no morro do Gato (a 20 minutos do refúgio) com 4 cordadas, com esta opção escalaríamos e o Guga não sofreria tanto com seus pés. E assim fechamos o último dia de escalada em Salinas onde a Rê e o Samuca seguiram o plano inicial que era o de fazer a via No Mundo da Lua (300 metros, D2 4° V+ E3) no Pico maior e eu e o Guga fomos em direção ao Morro do Gato – parte alta fazer a via Bode da tarde (130 metros, DI 4° IV EI), acordamos dia 31 de agosto com a incerteza do tempo que estava fechando de nuvens pesadas e com a preocupação pelos amigos que estava na parede a algumas horas, como nossa via era apenas de quatro cordadas e o acesso era rápido saímos mais tarde, chegamos ao pé da via com um spray mais decidimos subir assim mesmo, já no início da primeira cordada o céu começou a abrir e o sol a bater e esquentar um pouco pois o vento gelado era cruel, quando o Guga estava guiando a 3ª cordada tivemos um contato por rádio dos amigos e soubemos que eles haviam baixado da 1ª parada pois estava chovendo no Pico maior, mais que eles tentariam novamente pois o sol estava batendo na parede naquele momento, nós continuamos nossa subida, o Guga acabou emendando a 3ª e a 4ª cordada, ficamos no cume do morro do Gato um pouco, curtindo o visual lindo dos três picos de frente, mais o frio intenso nos fez descer. Chegamos ao refúgio as 14:00 horas para aguardar a chegada dos amigos que aconteceu por volta das 19:00 horas, fechando assim nosso último dia de escalada em Salinas.
Muitas alegrias e um grande aprendizado em apenas 6 dias, as montanhas proporcionam isto a quem se dispõem a subi-las com humildade e respeito, basta olhar ao lado para sentir-se pequeno, mais se soubermos enfrentar nossos medos crescemos sem sequer notar! VALEU SALINAS, VALEU SAMUCA E RÊ.
E até a próxima!