Oct 6, 2011

Travessia Serra Fina ... um sonho realizado (primeira parte)


Há tempos a vontade de fazer uma travessia, de colocar a casa nas costas e sair andando por ai era enorme, e esta vontade virou realidade no mês de setembro de 2011 com o convite inusitado da amiga Rossana, uma proposta tentadora que nem a grana curta nos faria recusar...Travessia da Serra Fina, localizada na Serra da Mantiqueira com quase todo trajeto acima de 2200 metros, água escassa e quatro (04) dias de caminhada em grandes desníveis com difícil navegação em alguns pontos (mesmo para quem carrega GPS), são algumas das características que colocam esta travessia entre uma das mais difíceis do Brasil, garantia de aventura que narrarei a seguir, onde fizemos a caminhada de Oeste para Leste.
Tudo organizado e no dia 06 de setembro saímos por volta das 22hs de Curitiba, viajamos de Van com um grupo organizado pelo Zeca onde alguns já se conheciam de travessias anteriores, porém nós conhecíamos apenas a amiga Rossana (que nos convidou e a quem aproveito para agradecer), o Serginho (que conhecíamos de um evento em Campo Mourão) e o Juliano que trabalha conosco (este nosso convidado), os demais fomos conhecendo com o decorrer da viajem. O grupo foi fechado com 13 pessoas, sendo estas Eu e o Guga, Zeca, Rossana, Cidinha, Henrique, Serginho, Cauê, Gabriel, Felipe, Yves, Luiz e Juliano...parece estranho aceitar fazer uma travessia tão difícil com pessoas que você mal conhece, mas a vantagem de ter um meio de transporte que nos deixaria na entrada da trilha e nos resgataria no último dia era importante para o sucesso da caminhada, e depois da travessia realizada percebemos que cada um com sua vivência e preparos diferenciados tiveram sua importância para o êxito da aventura.
Chegamos em Minas Gerais por volta das 09hs do dia 7 de setembro, onde paramos em uma pequena padaria (bem pequena) para tomar um café, que valeu a pena pelo pão de queijo e receptividade dos mineiros que é sempre incrível. Seguimos então rumo a Cruzeiro, onde pegamos uma estrada de terra a direita e o motorista da Van nos levou até onde era possível de carro. Então com as mochilas nas costas nos preparamos e iniciamos nosso caminho em estrada de chão, andamos uns 20 minutos e chegamos na saída oficial do trajeto a chamada Toca do Lobo, uma pequena gruta a esquerda e um riacho de água cristalina a direita. Enchemos nossas garrafas de água (preciosa água que nos acompanharia até o fim do segundo dia), nos hidratamos bem e seguimos caminho, cruzamos o riacho e iniciamos a primeira subida, bem dura por sinal e que fica pior a cada momento. O primeiro dia é sempre difícil, o corpo precisa acostumar, os pés sofrem com o caminhar e os ombros gritam pelo peso colocado sobre eles, mas logo tudo melhora, pois a paisagem vai surgindo e apreciar cada visual e vegetação local torna-se um alívio....e assim foi, no primeiro visual temos os campos paulistas ao sul com o pico do Itaguaré e dos Marins mais a direita. Caminhamos por Cristas o tempo todo e o interessante é que em alguns momentos caminhamos em São Paulo e em outros em Minas Gerais, isto ocorre, porque as cristas fazem a divisa dos dois estados. E nossa primeira parada de almoço foi em um cocuruto que chegamos por volta das 13hs, eu o Guga e o Ju lanchamos curtindo a vista incrível em um dia azul de tirar o fôlego, nosso almoço consistiu de uns "doguinhos" (massa de pão assado com salsicha feitos pelo Ju) que estavam uma delícia e um litro de suco, que foi regulado pela falta de água durante o trajeto...seguimos após meia hora de descanso passando por subidas e descidas em alguns momentos repletas de pedregulhos em outros rodeadas por capim elefante (também conhecido como capim-navalha – imaginem o por que), por fim lá pelas 14hs chegamos em um bambuzal onde finalmente paramos para um descanso merecido com sombra, e vale a pena parar principalmente se o sol estiver forte como no nosso caso, e ali ficamos aproveitando a sombra por aproximadamente uma hora. A última subida foi bem íngreme, porém com mais vegetação e degraus de pedras, nada que quem está acostumado com as subidas da nossa serra não tire de letra...e assim por volta das 16hs chegamos ao topo do Morro do Capim Amarelo, nosso destino final deste primeiro dia de caminhada, lindo visual pois dali avista-se toda crista percorrida e ainda fomos brindados ao fim do dia com um estonteante pôr do sol. O dia só não foi perfeito pelo incidente que alguns membros de nosso grupo tiveram com um fogareiro que acabou explodindo durante o jantar, mais que não causou grandes estragos apesar do grande susto, fica o alerta de que deve-se ter um grande cuidado ao mexer com fogareiros perto de outros que estejam em funcionamento, enfim por sorte e mãos dos nossos anjos que estavam atentos tudo acabou bem.
Após uma noite de sono inquieta, eu com muita sede e tendo que racionar água e o Guga pelo susto tomado com o fogo na noite anterior, mas acordamos com um lindo amanhecer que prometia um lindo dia, e assim foi. Iniciamos nossa caminhada por volta das 8hs e sabíamos que este dia em especial seria difícil por dois motivos: primeiro pela dificuldade de navegação desta parte da travessia e segundo porque encontraríamos água apenas no próximo acampamento, ou seja depois de no mínimo 5 horas de caminhada. Já na saída do Capim Amarelo nos perdemos, ou melhor, nem encontramos a saída original, andamos varando mato algum tempo (melhor dizer varando capim) até que o Guga, o Gabriel e o Felipe encontraram o que poderia ser nosso caminho. A partir deste ponto descemos hora pela trilha certa hora por vara matos (ou melhor, bambu), utilizamos o GPS e o senso de localização aguçado do Guga, além é claro da raça do Gabriel que encarou o problema de frente e saio rasgando mato no literalmente no peito...e depois de umas duas horas de perdido mais onde todos encararam com paciência e bom humor a situação, finalmente entramos em uma trilha super aberta em um bambuzal e a partir daí a orientação ficou mais fácil. Seguimos mais umas duas horas de caminhada e após a subida de uma super rampa paramos para lanchar. Neste momento a falta de água começou a pesar, nem conseguimos comer direito e o trajeto ainda era longo, um pouco de queijo e uma bolachinha, fruta seca e depois de um breve descanso seguimos....passamos por uma linda e gostosa crista e já conseguíamos lá no fundo avistar o Itatiaia, depois desta crista rochosa caminhamos novamente por trechos de capim, bambuzais e encostas de pedras, sempre visualizando a Pedra da Mina, ponto mais alto da nossa travessia, mais nosso destino estava um pouco abaixo dela. E por volta das 15hs e quase sem água chegamos a um lajeado de pedra com água que desce em forma de cachoeira (se é que posso chamar de cachoeira), chegamos na tão esperada água. Na verdade eu esperava mais água, mas como estávamos no inverno seco, aquelas poças de água com fundo ferroso que caia laje abaixo em um filete de água foi a melhor que poderia ter. A alegria foi geral, todos sentamos, descansamos, tomamos muita água e comemos. O Felipe havia localizado um ponto melhor de camping um pouco a frente, ao lado de uma mina de água, então seguimos mais 20 minutos, e acabamos dividindo o grupo pois perto das minas de água cabiam apenas 3 barracas, sendo assim ficamos eu e o Guga, o Juliano e o Serginho e Cidinha, os demais acamparam um pouco antes da água. Essa sim super água, cristalina que nos encorajou até mesmo a tomar um banho e tirar toda a secura do corpo e lavar a alma...como damos mais valor a pequenas coisas quando sentimos falta! Nossa janta foi regada a macarrão com muito molho de sardinha e muita água e suco, e de sobremesa ainda rolou um chocolatinho e uma cachacinha é claro, pois é Minas sô (ou São Paulo, sei lá)...bom heim! A noite estava linda e bem tranquila. (CONTINUA...)















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